Por Rafael Saad Fernandez
Na reunião da última quarta, boa parte dos esforços para encaminhar
pontos importantes da nossa luta foram desviados para manifestações de
ódio contra a administração pública e seus gestores. Eu entendo que as
pessoas estejam com muita raiva em decorrência do descaso com que a
cultura foi tratada nos últimos anos e em especial desde a
reestruturação que criou a Secretaria de Cultura, no entanto, estou
certo de que a luta não é essa.
Se no passado aconteceu muita
conversa fiada e promessas vazias, eu não quero saber – quero saber do
que vai acontecer daqui pra frente. Se as pessoas foram maltratadas, se
houve descaso, se ocorreram erros, devemos aprender com tudo isso e
pronto, a vida segue em frente, não adianta ficar chorando as mágoas do
passado.
Muito se falou nessa reunião sobre os editais, o fundo
municipal de cultura e o conselho municipal de cultura. Quando foram
abertos esses editais, amparados por um conselho municipal que era
criticado por não possuir representatividade da classe artística, todo
mundo achou legal: o dinheirinho caiu no bolso de vários artistas e todo
mundo curtiu. Agora que a secretaria preferiu refazer a lei que
determina a composição do conselho e optou por não elegê-lo enquanto
isso não ocorresse, as pessoas acham ruim e reclamam. Pior ainda é ter
que ouvir nessa reunião que alguns artistas não vão querer compor o
conselho porque isso irá impedi-los de receber recursos de editais.
Porra! A questão da luta pela cultura no município é simplesmente porque
os artistas da cidade querem dinheiro pra poder realizar os seus
espetáculos ou há algo mais profundo nisso tudo?
Eu quero construir
um movimento que se preocupe em primeiro lugar com as pessoas da cidade,
que se preocupe em oferecer arte e cultura para a população. Eu
acredito que para isso é necessário valorizar os artistas da cidade e
fazê-los caminhar com suas próprias pernas – basear a política cultura
em editais que simplesmente colocam dinheiro no bolso dos artistas é
instituir uma lógica de mecenato, não uma política cultural que vise o
desenvolvimento do município. Os editais, na minha visão, são um
instrumento para artistas em início de carreira, não para pessoas que já
estão estruturadas. Para estes grupos deveria haver políticas de
crédito que financiassem os espetáculos e não oferta de dinheiro a fundo
perdido.
Tendo isso dito, está muito claro pra mim que a nossa luta
deveria se concentrar em conseguir a aprovação da lei instituindo o
sistema municipal de cultura e eleger um bom conselho municipal de
cultura. Com isso feito, os recursos do fundo municipal de cultura (que é
de onde sai o dinheiro para os editais e que pode também ser usado para
financiamento, para fomento, para contratar espetáculos, bancar
oficinas etc.) vão ficar disponíveis e passarão pelo crivo do conselho
(composto por no mínimo 50% de representantes da sociedade civil)... Se
já houve outras histórias antes, se esse filme já passou etc., eu não
sei, só sei que no contexto atual, com a recente adesão do município ao
sistema nacional de cultura, a melhor alternativa é começar uma luta
para que esse processo seja o mais breve possível. Bater o pé, xingar,
chorar as pitangas do passado não vai ajudar em nada. O que vai resolver
é uma mobilização conjunta, seja na forma de manifestos, intervenções
urbanas, performances, debates públicos, aparições na câmara municipal
etc, para que estas leis sejam aprovadas e que sejam adequadamente
cumpridas.
Além disso, é importantíssimo nos armarmos com
informação. Fazer críticas sem informações completas só nos enfraquece. É
importante levantar o máximo possível de dados sobre a situação das
políticas culturais em todas as esferas e ter ciência dos esforços que
estão sendo empreendidos (ou não) pela Secretaria de Cultura para que
sejam resolvidos os problemas. Agir de forma contrária a tudo isso,
gritando e batendo o pé como moleques, não vai ajudar.
Sou favorável
à desobediência civil (que parece ter virado o mote da última
reunião...). Mas acredito que ela deva ser um instrumento para que se
consiga que a prefeitura cumpra o seu dever, para que nossos direitos
sejam garantidos. Fazer birra é uma coisa, desobediência civil é outra
completamente diferente...
Pra quem queria ver a discussão pegar fogo aqui, lá vai um molotov.
O Blogue :Esta postagem é interessante pois retrata o desconfortos de alguns e conforto de outros, coisa que nunca antes feita. Ficávamos traçando diretrizes, mas não nos perguntamos se as anteriores foram cumpridas ou, se quer re-olhadas. Dia 23 de janeiro foi a primeira reunião do ano, e com isso muitas idéias, muitas perguntas, pois ficar se reunindo para que? A unica resposta para isso seria entender e resolver os problemas e não só ficar expondo problemas ou casos sem uma solução.
O pessoal do CONSORTE já tem anos vividos, esclareceu e deu alguns fatos importantes que, se era sabido por algum membro, nunca foi abordado como prioridade... a burocracia tem que ser amenizada. Sabemos que tudo passa por um processo burocrático(e que burocracia!) mas certas perguntas nunca foram respondidas pela Secretaria da Cultura. Dai se pergunta: por este motivo eu perguntava, perguntava e nada de resposta? Creio que sim!
Estes dois não tem juízo , rsrs |
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